segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

ONDE ESCUTAR JESUS?


Entre todos os métodos possíveis de ler a Palavra de Deus está sendo revalorizado cada vez mais, em alguns setores cristãos, o método chamado lectio divina, muito apreciado em outros tempos, sobretudo nos mosteiros. Consiste numa leitura meditada da Bíblia, orientada diretamente para suscitar o encontro com Deus e para a escuta de sua Palavra no fundo do coração. Esta forma de ler o texto bíblico exige diversos passos.

            O primeiro passo é ler o texto procurando captar o seu sentido original, para evitar qualquer interpretação arbitrária ou subjetiva. Não é legítimo fazer a Bíblia dizer qualquer coisa, tergiversando seu sentido real. Precisamos compreender o texto empregando todas as ajudas que tivermos à mão: uma boa tradução, as notas da Bíblia, algum comentário simples.

            A meditação implica um passo a mais. Agora trata-se de acolher a Palavra de Deus meditando-a no fundo do coração. Para isso começa-se por repetir devagar as palavras fundamentais do texto, procurando assimilar sua mensagem e torná-la nossa. Os antigos diziam que é necessário “mastigar” ou “ruminar” o texto bíblico para “fazê-lo descer da cabeça ao coração”. Este momento pede recolhimento e silêncio interior, fé em Deus que me fala, abertura dócil à sua voz.

            O terceiro passo é a oração. O leitor passa agora de uma atitude de escuta a uma postura de resposta. Esta oração é necessária para que se estabeleça o diálogo entre o crente e Deus. Não é preciso fazer grandes esforços de imaginação nem inventar belos discursos. Basta perguntar-nos com sinceridade: “Senhor, que queres dizer-me através deste texto? A que me chamas concretamente? Que convicção queres semear em meu coração?”

            Pode-se passar a um quarto momento, que costuma ser chamado de contemplação ou silêncio diante de Deus. O crente descansa em Deus, calando outras vozes. É o momento de estar diante dele, ouvindo apenas seu amor e sua misericórdia, sem nenhuma outra preocupação ou interesse.

            Por último, é necessário recordar que a verdadeira leitura da Bíblia termina na vida concreta e que o critério para verificar se ouvimos a Deus é nossa conversão. Por isso, é necessário passar da “Palavra escrita” para a “Palavra vivida”. São Nilo, venerável Pai do deserto, dizia: “Eu interpreto a Escritura com minha vida”.

 (Pagola, J. Antonio, O Caminho aberto por Jesus, Petrópolis, RJ: Vozes,2012,  p. 160-161)


ENVIADO PELO NOSSO BISPO DOM MAURO

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