segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

MEDITAÇÃO SOBRE A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR


                                                            ESCUTAR SOMENTE JESUS

A cena é chamada tradicionalmente de “transfiguração de Jesus”. Não é possível reconstruir com certeza a experiência que deu origem a este surpreendente relato. Só sabemos que os evangelistas lhe dão grande importância, pois se trata de uma experiência que deixa entrever algo da verdadeira identidade de Jesus.

            Num primeiro momento, o relato destaca a transformação de seu rosto e, embora venham conversar com Ele Moisés e Elias, talvez como representantes da Lei e dos Profetas respectivamente, só o rosto de Jesus permanece transfigurado e resplandecente no centro da cena.

            Ao que parece, os discípulos não captam o conteúdo daquilo que estão vivendo, porque Pedro diz a Jesus; “Mestre, como é bom estarmos aqui! Faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Ele coloca Jesus no mesmo plano e no mesmo nível que os dois grandes personagens bíblicos. A cada um sua tenda. Jesus não ocupa ainda um lugar central e absoluto em seu coração.

            A voz de Deus vai corrigi-lo, revelando a verdadeira identidade de Jesus: “Este é meu Filho, o eleito”: aquele que tem o rosto transfigurado. Não deve ser confundido com os de Moisés ou Elias, que estão apagados. “Escutai-o”. E a ninguém mais. Sua Palavra é a única decisiva. As outras nos devem levar até Ele.

            É urgente recuperar na Igreja atual a importância decisiva que teve em seus inícios a experiência de ouvir, no seio das comunidades cristãs, o relato de Jesus recolhido nos evangelhos. Estes quatro escritos constituem para nós uma obra única que não devemos equiparar ao resto dos livros bíblicos.

            Há algo que só neles podemos encontrar: o impacto causado por Jesus nos primeiros que se sentiram atraídos por Ele e o seguiram. Os evangelhos não são livros didáticos que expõem doutrina acadêmica sobre Jesus. Tampouco são biografias redigidas para informar detalhadamente sobre sua trajetória histórica. São “relatos de conversão” que convidam à mudança, ao seguimento de Jesus e à identificação com seu projeto.

            Por isso pedem ser ouvidos em atitude de conversão. E nessa atitude devem ser lidos, pregados, meditados e guardados no coração de cada crente e de cada comunidade. Uma comunidade cristã que sabe escutar cada domingo o relato evangélico de Jesus em atitude de conversão começa a transformar-se. A Igreja não tem um potencial mais vigoroso de renovação do que aquele que se encerra nestes quatro pequenos livros.

(Pagola, J. Antonio, O Caminho aberto por Jesus, Petrópolis, RJ: Vozes,2012,  p. 156-158)

ENVIADO PELO NOSSO BISPO DOM MAURO

Nenhum comentário:

Postar um comentário